Pois é... O "xiripiti" que obteve a maior votação dos nossos inesperados leitores é aquele que me recorda uma história que se passou comigo... com uns amigos meus, quero dizer, há uns tempos atrás.
Reza a história que um grupo de amigos se aventurou numa incursão por terras do norte. Curiosos e destemidos, enfrentaram a noite de Guimarães, berço de Portugal, onde gente de raiz, de gema, se diverte e convive ao jeito da melhor tradição portuguesa. A noite começou com um jantar bem regado com o néctar da boa uva portuguesa. Seguiu por locais animados e cheios de juventude, gente menos tradicional é certo mas sempre de raiz, de gema, como é de praxe no bom povo do norte. A noite ameaçava terminar quando subitamente todas as portas se fechavam, umas por iniciativa dos seus donos, outras à força de agentes de autoridade. Com a noite ainda criança e sedentos de animado convívio, nós... os meus amigos, procuraram respostas nos transiuntes. Um jovem rapaz, também ele sedento de alguma animação, acolhe com simpatia a nossa preocupação e oferce-se para nos guiar ao único local capaz de satisfazer a nossa ânsia: a tasquinha do senhor Júlio! E digo-vos... que local mais representativo da nossa tradição e cultura!... disseram eles, os meus amigos! Podia falar-vos dos pratos de moelas, da bela pinga, dos senhores que se encostam ao balcão, sempre dispostos a argumentar em defesa de uma qualquer polémica, teimosos e curiosos, alegres e resingões! Podia falar-vos da acolhedora simpatia do senhor Júlio, que em menos de nada nos tratava como se fossemos clientes de há vários anos. Ou até da curiosa e jovem clientela, que se divertia de forma vigorosa, mesmo sem música de vários decibéis ou comprimidos a passar de mão em mão. Mas estou aqui para vos falar do "xiripiti", o verdadeiro, aquele que faz parte do imaginário de qualquer tasca portuguesa. E esse veio no fim da noite, já depois de atestado o depósito e em cima da vigorosa bica. Os senhores encostados ao balcão, também eles já nossos amigos, quer dizer, amigos dos meus amigos, olharam preocupados para os pequenos copos cheios de "xiripiti" que nos preparávamos para degustar. Temiam a nossa inexperiência... dos meus amigos, avisaram-nos, pediram que nos poupassemos, mas eramos jovens ambiciosos e tinhamos muita coisa para provar ainda! Foi nesse dia... foi nesse dia que nos tornámos Homens! Podia contar-vos o que se passou depois, mas as memórias que tenho são vagas... os meus amigos não me souberam dizer mais nada.
No dia seguinte, ao falar com um amigo, um amigo do norte por sinal, contei-lhe o sucedido e mesmo antes que pudesse terminar a história, dizia-me ele com ar preocupado: "Epa... 'xiripiti' do amarelo é que não, daqueles guardados em garrafas sem rótulo, aquilo é como o petróleo!"... Pois foi mesmo esse o "xiripiti" que vos traz hoje esta história!